Half - Pipe

Sem rumo, chegámos até ao half-pipe. - Vinte e sete, mas shiuu... é segredo. - Murmurei baixinho, num tom brincalhão.

Ri-me e olhei para ele.
-Não te dava 27, uns 24/25. Não 27. - E sorri.
Sentámo-nos numa parte do half pipe.
-Então e a mim, quanto me dás?

- Vou considerar isso um elogio - Disse, entre um sorriso. Ajeitei-me no banco e olhei bem para ela. Era jovem, bastante jovem e bela. No entanto tinha a forma e a elegância de uma mulher - Arrisco nos dezassete? - Perguntei, arqueando as sobreancelhas.

Senti-o a estudar-me e sorri. Também eu já o mirara. Por pouco não acertara na minha idade.
- Falhaste por um , tenho 16.

- Não por muito, pelo menos - Esbocei um sorriso, tentanto simpatizzar com ela. Não que já não estivessemos simpatiados, mas apesar de tudo ainda havia as formalidades entre aluna e professor.

O ambiente começava a ficar pesado e, por isso, tive de pensar em alguma coisa para aligeirar tudo. Pensa, pensa. Bolas, não me lembrava de nada. Suspirei.
-Se estiver a ser uma aluna chata, podes ir embora. Eu não levo a mal.

Olhei para ela espantado - Achas mesmo que é isso que está a acontecer? - Com o dedo indicador apotei para o edificio da Direcção - Passei o meu dia todo ali, a preencher papeis. Acredita quando digo que não és chata. Na verdade, és adoravél - Disse simplesmente, esperando que ela não pensasse em outras coisas.

Soltei uma gargalhada com o seu comentário. Até me vieram lágrimas aos olhos. Não era habitual que me chamassem adorável.
- Não estou habituada a que me chamem adorável. - E sentei-me , traçando a perna, no banco. - Deve ser stressante, imensos papéis, reúniões,..

- Desculpa se não o devia ter dito - Afirmei, enquanto limpava a lágrima que caía pela sua face. Depois afastei-me um pouco, antes que ficassemos a uma distância perigosa - É stressante. Cinco cafés por dia são por vezes insuficientes. Mas eu gosto de dar aulas, por isso não me importo muito.

Quando me limpou a lágrima, olhei para ele, curiosa. Ok, isto era estranho..
- Isso é que importa, se não fizermos o que gostamos nunca seremos felizes. Isto é, é o que penso. - E sorri, vendo que a nossa distância diminuira.

- Concordo. Devemos viver os nossos sonhos, em vez de os sonharmos apenas. - Não sabia o que estava a fazer. Se alguém nos visse, tenho a certeza que acharia estranho, ou mesmo errado. Mas surpreendentemente, não estava preocupado com isso.

Recostei-me no banco e olhei-o, pensativa.
- Eu tinha 4 anos e decidi que ia ser actriz. Sabes quando entras numa personagem e ela se entranha em ti? Acho que desde pequena que sou assim, não eu. - E abanei a cabeça. - Já estou a falar de mais.

- Não sei como isso é, mas pareces bastate feliz assim - Sorri para ela, comtemplando o seu ar sonhador - A motivação é importante. Muito importante. Quando era novo eu não sabia o que queria fazer da miha vida. Foi preciso ser "acordado" para fazer alguma coisa direita e bem feita. E assim cheguei até à Criminologia. - Parei de falar, para olhá-la - Tenho a certeza que és uma óptima actriz - Afirmei convicto.

Sorri.
- E eu tenho a certeza de que és um excelente professor de Criminologia. -E foquei o olhar nuns alunos mais longe, pareciam estar a fazer algo. Revirei os olhos ao reparar que estavam a ter relações sexuais ao ar livre. - Disgusting- Mumurei, um pouco alto. E voltei-me para Vane.

Ri-me, até ver ao que ela se referia. Não tinham escolhido, de certeza, o melhor sitio. - Aquilo podia ser considerado crime. Mas acho que por aqui só dá direito a um castigo cumunitário.

- É só nojento ter de ver isto. - E ri-me, voltando a cara para outro lado. - Crime? Não penses demasiado em Criminologia. - E dei-lhe um encontrão, parando depois a pensar no que tinha feito. - Oh, desculpa!

-Não faz mal. Por vezes não me controlo - Disse um pouco envergonhado - Pelo menos estás safa das minhas aulas! - Disse, um tom brincalhão.

- Isso não quer dizer que não as possa ir espreitar. - E levantei uma sobrancelha, sorrindo-lhe.
Apertei mais o casaco, colocando o capuz, começava a ficar frio.

- Claro. És sempre bem-vinda. - Também reparei na brisa fresca que percorria por ali. - Talvez seja melhor deixar-te voltares para dentro. Estou aqui a tagarelar, sem parar mas esqueço-me que és uma aluna.

Fiquei surpreendida.
- Não te preocupes, eu fecho o casaco e estou bem. A menos que queiras voltar para dentro, começa a escurecer um pouco. - E olhei para o céu que começava a ficar mesmo escuro.

- Na verdade, ainda tenho de encontrar um hotel para passar a noite - Mas estás parvo Vane? Porque estás a dizer isto a uma aluna? - E a noite vai estar fria, não quero que te constipes por minha causa.

Arrepiei-me com o vento. Porque é que ele me está a falar de hotel?
- Não te deram um quarto? É que não sei se existe um hotel aqui perto.. - Sorri ao ouvir o que dissera. - Don't worry, noites assim com um pouco de vento não são nada.
Nada para quem já passou noites ao relento, não é Elizabeth?

- Enquanto não for colocado, estou por minha conta. - Era mau não haver um hotel por estas bandas. Mas encolhi os ombros, como que se nada fosse. Já me tinha adaptado a situações piores - Bem, então acho melhor ir. - Ia para lhe dar um beijo na cara, mas decidi não o fazer. Formalidades Vane, formalidades...

Pensa em alguma coisa, Beth, pensa. Não podes fazer isso. Ele não vai dormir nas pedras da calçada!
- Se quiseres, podes ficar no meu quarto. Isto é, nada do que estás a pensar nem ..ok adiante, precisas de um sitio para dormir e a minha companheira ainda não chegou.